Feita a aprendizagem ali, a S. Lásaro, e em Gaia, com Mestre Teixeira Lopes, - Branca Alarcão, sem protecções, nem estímulos, numa simplicidade que encanta e num desprendimento que surpreende, passa ao barro os bustos daqueles que a cercam e nervosamente lhes imprime, com a Verdade, qualquer coisa que das suas almas nos fala.
É ver a resignação sofredora do Pai - um vencido pela doença; é ver aquele perfil cheio de bondade da Mãe dedicadíssima; é ver ainda o perfil observador de sua irmã Argentina - (...)
Alberto Meira, pg. 208, Ilustração Moderna – 1930

Monografia

Discípula de Mestre Teixeira Lopes, reconhecível pelo contorcionismo subtil da pose modelada em tamanho natural e de corpo inteiro de algumas das suas criações, retratando crianças e mulheres.


Dedicou-se, também, à reprodução de tipos de pessoas autóctones das várias regiões de Portugal continental e, na altura, colonial, em estatuetas de dimensão constante, com cerca de 30cm de altura, vindo a constituir documentos iconográficos minuciosos de costumes na indumentária e actividades rurais típicas. Estes integram colecções particulares e o ido Museu Etnográfico do Porto, tanto nas suas versões em gesso, como em prata ou bronze.


Preponderantes são os bustos que ao longo da vida foi retratando com a destreza e a rapidez de quem se entrega ao talento com que nasce, chegando a iludir os clientes, confessa, para fazer crer que o trabalho já executado lhe iria ser um pouco mais moroso. Destaca-se a encomenda em 1938 do busto do Dr. Mendes Correia, ilustre presidente da Câmara Municipal do Porto, envolto na sua béca doutoral e catedrática.



Medalhística, de encomenda variada, de homenagem a figuras públicas de relevo, tal como o Sr. Dr. Tiago de Almeida, de Viana Castelo.


Tendo-lhe sido reconhecido o mérito artístico, foi convidada para realizar trabalhos de responsabilidade social. Assim, em Tondela, pode admirar-se o Monumento aos Mortos da Grande Guerra e, em Tavira, o Monumento ao Bispo do Algarve.


Convidada para trabalhos escultóricos na Exposição do Mundo Português em Lisboa e para a Exposição Colonial do Porto, foi distinguida com um diploma de mérito pela sua contribuição.


Realizou, em Lisboa, a sua primeira exposição com o arquitecto Manuel Ribeiro e esteve, depois, presente em muitos outros certames em Braga, Porto, Águeda e Luanda, entre outros, geralmente acompanhada das duas irmãs, Sarah e Argentina.
As três artistas com formação na Escola de Belas Artes do Porto (Pintura e Escultura), onde foram alunas de mestres distintos, tais como Marques de Oliveira, Acácio Lino e Teixeira Lopes, leccionaram desenho e pintura. Branca percorreu, enquanto professora, as escolas de Viseu, Tavira e Évora, tendo-se reformado a partir da escola de Viseu.

Biografia

1902 - Nasce em Lisboa a 4 de abril, filha de Guilhermina do Nascimento Alarcão (21/09/1874), natural de Elvas, e de Joaquim Alarcão (28/01/1843), natural de Lisboa.

1928 - Concluiu o curso da Academia de Belas Artes do Porto, honrando o mestre, António Teixeira Lopes.

1930 - Expõe no certame "Mulheres Portuguesas", juntamente com as irmãs Sarah e Argentina.

1932 - Expõe no âmbito do Salão dos Artistas Criadores, no Palácio das Belas Artes, em Janeiro, e participa na exposição de iniciativa da papelaria Progresso, inaugurada pelo artista Emanuel Ribeiro, a 24 de Abril.

"Pela primeira vez em Portugal uma senhora obtem que um trabalho escultural se alçapreme em ornamento de uma das suas vilas mais notáveis" in O Jornal da Mulher, sem data.

"A gravura reproduz o inspirado grupo alegórico que deve assentar no monumento aos Mortos da Grande Guerra (...) na Vila de Tondela. Esse expressivo trabalho foi excelentemente modelado pela distinta escultora sr.º D. Branca Alarcão, aluna laureada da Escola de Belas Artes do Pôrto. É a primeira obra de escultura monumental executada por mãos femininas a expõr em recinto público." in O Primeiro de Janeiro, 14 de Setembro de 1932.

1934 - Participação na 1ª Exposição Colonial Portuguesa - Porto.
Vencedora do 3º Prémio no Concurso de Arte Colonial.


1935 - É nomeada Directora, interina, da Escola Industrial de Josefa de Óbidos, de Peniche.

1937 - Concorrente ao "embelesamento da Avenida dos Aliados", com a escultura "Primavera".

1938 - Expõe no Salão Silva Porto, juntamente com as irmãs, Argentina e Sarah.
"(...)Várias figuras típicas do nosso povo, foram fixadas com sobriedade e delicadeza pela escultora, de lés-a-lés de Portugal. Camponês de Évora, Pescador e Peixeira de Matozinhos, Lagareira do Douro, embiocada de Olhão, Lavradeira e Padeira de Valongo, Tricana, Leiteira de Chaves, trajo antigo da Murtosa, Mulher de Estoy. - Figurinhas animadas que ficariam bem numa História do Vestuário em Portugal." in Jornal de Notícias, 30 de Outubro – Aurora Jardim.

1945 - Tem obras expostas em Benguela, no Grémio de Pesca.

1960 - Publicação de uma entrevista com a Escultora, por Emanuel Serzedo, no nº16 da OLIVA - Revista Ilustrada de Moda e Literatura (Julho).

1963 - Exposição conjunta na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa (Novembro).

1963 - Referência elogiosa à Exposição na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa, publicada no nº33 da OLIVA - Revista Ilustrada de Moda e Literatura (Dezembro).

1966 - Expõe no Ateneu Comercial do Porto.

1968 - Exposição conjunta em Luanda - Angola, no Palácio do Comércio. Exposição inaugurada pelo Governador do Distrito de Luanda, Dr. Oliveira Santos, tendo sido convidadas outras individualidades de destaque no meio local na época.
"Depois de um prolongamento justificado pela contínua afluência de público, encerrou-se a variada e válida exposição de pintura e escultura das artistas metropolitanas Donas Sarah, Argentina e Branca Alarcão, aberta desde 29 de Agosto, realizada com o patrocínio do C.I.T.A. no Palácio do Comércio de Luanda." in Revista de Angola, nº175, 15 Setembro1968.

1971 - Monumento de homenagem a D. Marcelino Franco, Bispo do Algarve, em Tavira.
"À senhora D. Branca de Alarcão, distinta escultora, autora de uma estaueta do Sr. D. Marcelino (para a qual posara durante vários dias e de que a estátua é uma cópia fiel), foi confiada a responsabilidade da sua execução..." (pág. 28), Cap.XII - História do Monumento, Breve Memória de Dom Marcelino António Maria Franco, por Padre Manuel Bárbara.

1973 - Publicação de um artigo sobre o trabalho das irmãs "Três Artistas de Mérito Exposeram na Galeria de O Primeiro de Janeiro", por Alice de Azevedo, no nº 144 da revista "Portugal D'aquem e D'além Mar" (Junho).

1979 - Exposição conjunta na Galeria Artística de "O Primeiro de Janeiro", em Fevereiro.

1985 - Falece no Porto, a 18 de Maio. Sepultada em jazigo de família no Cemitério do Prado do Repouso.